A crise europeia deve afetar o preço das commodities, principais produtos de exportação do Brasil, e causar uma queda em torno de 7% nas vendas externas do País. A informação é de José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que ministrou a palestra “Perspectivas do Comércio Mundial e Brasileiro”, nesta terça-feira (17), na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
“A crise da Europa fez com que o preço das commodities tivesse uma queda. Isso vai fazer com que as exportações diminuam porque, com a queda das commodities, o Brasil automaticamente tem as exportações reduzidas”, explica o executivo. Segundo ele, a queda no preço destes produtos, que representam 71% das exportações nacionais, afetará também as vendas externas de produtos manufaturados.
“Nossos grandes compradores de manufaturados são exportadores de commodities. Com a queda das commodities o poder de importação deles diminui, então eles passam a comprar menos. Isso para o Brasil é ruim porque basicamente nós exportamos manufaturados para os países da América do Sul, que são todos exportadores de commodities”, esclarece.
A concentração das exportações brasileiras em commodities foi uma das principais críticas de Castro ao comércio exterior do País em geral e ao comércio com os árabes. “A demanda é por commodities. O ideal é que tenhamos uma participação, pelo menos, igualitária. Se você buscar nichos de mercado, você vai encontrar”, diz, mencionando o interesse de pequenas empresas no exterior em importar produtos manufaturados. “É preciso ir ao mercado, conhecê-lo in loco”, destacou.
China (17%), Estados Unidos (10%), Argentina (8,87%), Holanda (5,33%) e Japão (3,70%) são os principais destinos das exportações nacionais. Entre os árabes, os principais compradores do Brasil são Arábia Saudita (1,36%), Egito (1,02%), Emirados Árabes (0,85%), Argélia (0,58%) e Marrocos (0,32%). “Os árabes têm um alto déficit comercial com o Brasil e querem uma parcela do mercado brasileiro”, lembrou Michel Alaby, CEO da Câmara Árabe. Apenas três nações árabes apresentam superávit no comércio com o Brasil: Argélia, Kuwait e Marrocos.
Apesar de destacar a importância do aumento das exportações de manufaturados, Castro ressalta que nos próximos anos deverá haver um aumento da demanda de alimentos por mercados como Índia e China, que estão reduzindo sua população rural. “O Brasil tem a sorte de ter a Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Com a tecnologia desenvolvida por ela, o País aumentou a produção nos últimos anos sem aumentar a área plantada”.
Para Castro, o Brasil precisa ser mais agressivo em suas estratégias de comércio internacional, participando de feiras no exterior e enviando representantes para conhecer os mercados nos quais quer entrar, por exemplo. “Não temos uma cultura exportadora. Não temos consórcios de exportação. Estes consórcios fariam com que pequenas e médias empresas exportadoras, que têm capacidade, ficassem muito mais fortes”, aponta.
Segundo os dados da AEB, no Brasil, das 4,5 milhões de empresas existentes, apenas 19,1 mil são exportadoras. “Destas, 934 empresas concentram 92% das exportações brasileiras”, revela o presidente da AEB.
Como desafios internos para o crescimento do comércio internacional, ele também lista a necessidade da formulação de uma política de comércio exterior unificada, que não sofra influência das várias esferas do governo, a realização de uma reforma tributária e a resolução dos gargalos logísticos do País.
Da www.anba.com.br